Parceria FLUPP: Como a Mentoria Pedagógica Está Transformando Nossa Escola
Uma Jornada Colaborativa para Fortalecer a Educação Ruralção do post.


Introdução: O Encontro entre Experiência e Inovação
No dia 11 de agosto de 2025, a Escola Municipal Professora Lúcia Marcondes Machado Penido vivenciou um marco transformador em sua história: o primeiro encontro de mentoria pedagógica promovido pela Fundação Lúcia e Pelerson Penido (FLUPP). Mais do que uma formação tradicional, este momento representou o início de uma parceria estratégica voltada ao fortalecimento da educação rural multisseriada, reconhecendo e valorizando as especificidades do nosso território.
A proposta da mentoria não chegou com respostas prontas ou modelos importados. Pelo contrário: chegou com perguntas potentes, escuta ativa e a firme convicção de que os educadores da escola possuem conhecimento profundo sobre sua realidade e são protagonistas na construção de soluções sustentáveis. Este artigo narra como essa parceria está desenhando novos horizontes para nossa comunidade escolar.
A Metodologia "Mão na Massa": Construindo Conhecimento de Forma Colaborativa
A mentoria implementou a metodologia "Mão na Massa", fundamentada nos princípios da aprendizagem colaborativa e do diagnóstico participativo. Segundo Fullan e Hargreaves (2000), a mudança educacional sustentável acontece quando os educadores são reconhecidos como intelectuais reflexivos, capazes de investigar sua própria prática e construir coletivamente caminhos de melhoria.
Como funcionou na prática?
O encontro foi estruturado em dois momentos complementares:
Período Matutino:
Entrevista estruturada com a gestora Celijane Alencar Pereira
Mapeamento de rotinas, projetos e práticas consolidadas
Levantamento de recursos, parcerias e infraestrutura
Identificação inicial de potencialidades institucionais
Período Vespertino:
Aplicação de diagnóstico participativo em cinco eixos pedagógicos: materiais pedagógicos, perfil estudantil, estratégias de aprendizagem, formação docente e gestão pedagógica
Construção coletiva de plano de ação personalizado
Estabelecimento de compromissos e sistema de acompanhamento
A escolha por essa metodologia dialoga diretamente com as Competências Gerais da BNCC, especialmente a Competência 10, que enfatiza a importância de "agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação" (BRASIL, 2018, p. 10).
O Diagnóstico Participativo: O que Descobrimos sobre Nós Mesmos
Um dos momentos mais potentes da mentoria foi o diagnóstico participativo. Utilizando formulários digitais estruturados, os seis educadores presentes refletiram criticamente sobre diferentes dimensões da prática pedagógica. Os resultados foram reveladores:
Desafios Identificados:
67% apontaram a inadequação dos materiais didáticos para turmas multisseriadas
100% reconheceram a alta diversidade de níveis de aprendizagem
67% indicaram necessidade de formação específica para multisseriação
67% sinalizaram dificuldades em leitura e matemática entre os estudantes
Potencialidades Reconhecidas:
100% desenvolvem projetos contextualizados com a realidade rural
83% integram saberes comunitários ao currículo
92% utilizam metodologias participativas
67% mantêm planejamento colaborativo funcional
Esses dados nos mostraram algo fundamental: não partimos do zero. Nossa escola possui práticas pedagógicas sólidas, recursos adequados e uma equipe profundamente comprometida. O desafio não é começar, mas sim sistematizar, fortalecer e expandir o que já fazemos bem.
Como afirma Arroyo (2007), um dos principais estudiosos da educação do campo no Brasil, "a escola rural não é uma escola menor ou atrasada; é uma escola diferente, que exige pedagogias específicas para responder às especificidades do território".
O Plano de Ação: Da Reflexão à Prática Transformadora
O diagnóstico desembocou na construção coletiva de um Plano de Ação para o segundo semestre de 2025, estruturado em torno de dois focos prioritários:
1. Proficiência Leitora Contextualizada
Reconhecendo que a leitura é porta de entrada para todas as aprendizagens, estabelecemos estratégias que conectam o texto escrito com a vida rural:
Leitura de textos do cotidiano (bulas, rótulos, manuais de máquinas agrícolas)
Interpretação de notícias sobre questões do campo
Produção textual significativa a partir das vivências locais
Essa abordagem está alinhada ao Eixo Leitura proposto pela BNCC para Língua Portuguesa, que preconiza "práticas de linguagem que decorrem da interação ativa do leitor/ouvinte/espectador com os textos escritos, orais e multissemióticos" (BRASIL, 2018, p. 71).
Soares (2020), referência nacional em alfabetização e letramento, reforça que "letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do estudante".
2. Raciocínio Matemático Aplicado
A matemática ganhou novo significado ao ser trabalhada a partir de situações reais da comunidade:
Cálculos relacionados à produção agrícola
Resolução de problemas do cotidiano da fazenda
Aplicação de conceitos em situações práticas da vida rural
A BNCC orienta que o ensino de Matemática deve "estimular e apoiar o estudante a desenvolver o raciocínio, a representação, a comunicação e a argumentação matemática" (BRASIL, 2018, p. 267), competências que se tornam mais potentes quando ancoradas na realidade vivida.
Compromissos Assumidos: Accountability como Cultura Escolar
A mentoria não se encerrou no dia 11 de agosto. Pelo contrário: estabelecemos um sistema de acompanhamento contínuo que inclui:
Produtos a Desenvolver:
Portfólio Institucional 2025: Sistematização de práticas e resultados
Site Escolar: Plataforma digital para registro e divulgação
Sistema de Documentação: Diário pedagógico coletivo
Metodologia de Monitoramento:
Reuniões mensais de avaliação
Registros fotográficos e audiovisuais
Coleta de depoimentos da comunidade
Análise de indicadores qualitativos e quantitativos
Esse movimento dialoga com o conceito de accountability educacional, mas em uma perspectiva democrática e formativa. Como explicam Afonso (2012) e Freitas (2012), a responsabilização educacional deve ser compartilhada e voltada à melhoria contínua, não à punição.
Depoimentos dos Educadores:
"Foi uma formação que adquiri bastante conhecimento" – Sandra Sousa Silva, professora do 2º e 3º anos
"Formação ótima, cheia de aprendizagem, espero que continue sendo muito dinâmica" – Ana Claudia M. Melo, professora do 4º e 5º anos
"Experiência extremamente proveitosa" – Rafael de Sousa Santos, professor dos anos finais e Ensino Médio
Esses testemunhos revelam não apenas satisfação, mas apropriação do processo – indicador fundamental de que a metodologia colaborativa atingiu seu objetivo.
Impactos Esperados: Projetando o Futuro
A parceria com a FLUPP projeta resultados em diferentes horizontes temporais:
Curto Prazo (Agosto-Setembro/2025):
Implementação das primeiras ações do plano
Consolidação do sistema de acompanhamento
Primeiras evidências de mudança nas práticas
Médio Prazo (Outubro-Dezembro/2025):
Avanços mensuráveis na proficiência leitora
Desenvolvimento do raciocínio matemático aplicado
Ampliação da participação familiar
Longo Prazo (2026 e além):
Metodologias institucionalizadas no PPP
Sustentabilidade das inovações
Escola como referência em educação rural
Por que Esta Parceria é Estratégica?
A mentoria FLUPP se diferencia de formações tradicionais por quatro razões fundamentais:
Respeito à Autonomia Docente: Não impõe modelos, mas constrói soluções junto com os educadores
Contextualização Radical: Todas as estratégias são pensadas para a realidade rural multisseriada
Acompanhamento Sistemático: Não é formação pontual, mas parceria continuada
Foco em Resultados: Estabelece indicadores claros e sistema de monitoramento
Segundo Nóvoa (2009), estudioso português referência em formação docente, "o desenvolvimento profissional dos professores tem de estar articulado com as escolas e seus projetos". É exatamente isso que a FLUPP propõe: uma parceria orgânica, enraizada em nosso contexto.
Conclusão: Uma Nova Etapa se Inicia
A mentoria pedagógica do dia 11 de agosto não foi um ponto de chegada, mas um ponto de partida. Construímos coletivamente um diagnóstico honesto, um plano viável e um sistema de acompanhamento robusto. Mais importante: fortalecemos nossa identidade como escola rural, valorizando nossos saberes e reconhecendo nossos desafios.
A parceria com a FLUPP nos ensina algo fundamental: transformação educacional não acontece de fora para dentro, mas de dentro para fora. Somos nós, educadores e comunidade, os verdadeiros protagonistas dessa história.
Como diz Paulo Freire (1996, p. 25), "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção". É isso que estamos fazendo: criando possibilidades, juntos.
O futuro que queremos para nossa escola está sendo construído agora, dia após dia, aula após aula, em parceria com quem acredita que educação rural de qualidade não é utopia, mas compromisso coletivo.
Sigamos juntos nessa caminhada!
Referências
AFONSO, A. J. Para uma concetualização alternativa de accountability em educação. Educação & Sociedade, v. 33, n. 119, p. 471-484, 2012.
ARROYO, M. G. Políticas de formação de educadores(as) do campo. Cadernos Cedes, v. 27, n. 72, p. 157-176, 2007.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC, 2018.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREITAS, L. C. Eliminação adiada: o ocaso das classes populares no interior da escola e a ocultação da (má) qualidade do ensino. Educação & Sociedade, v. 28, n. 100, p. 965-987, 2012.
FULLAN, M.; HARGREAVES, A. A escola como organização aprendente: buscando uma educação de qualidade. Porto Alegre: Artmed, 2000.
NÓVOA, A. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa: Educa, 2009.
SOARES, M. Alfaletrar: toda criança pode aprender a ler e a escrever. São Paulo: Contexto, 2020.
🎥 Vídeo da Mentoria:
Texto elaborado pela equipe pedagógica da EMEB Professora Lúcia Marcondes Machado Penido em parceria com a Fundação Lúcia e Pelerson Penido (FLUPP).

